O TESTEMUNHO DE EX-ATEIA QUE SE CONVERTEU AO CRISTIANISMO APÓS CONHECER O
PENSAMENTO DO PAPA BENTO XVI
Na última Páscoa,
quando eu estava começando a explorar a possibilidade de que deveria haver algo
a mais na fé católica, além do que eu tinha acreditado e sido levada a crer, eu
li "Cartas a um jovem católico", de George Weigel01. Uma passagem em particular chamou-me a
atenção
Falando dos milagres
do Novo Testamento e do significado de fé, Weigel escreve: "No
jeito católico de ver as coisas, andar sobre as águas é algo totalmente sensato
a se fazer. Ficar no barco, atendo-se tenazmente às nossas pequenas
comodidades, é loucura."
Nos meses seguintes, aquela vida fora
do barco – a vida da fé – começou a fazer bastante sentido para mim, a ponto de
eu não poder mais justificar ficar parada. No último fim de semana eu fui
batizada e confirmada na Igreja Católica
É claro, isso não deveria acontecer. Fé
é algo que a minha geração não considera, mas deixa de lado e ignora. Eu cresci
sem nenhuma religião e tinha oito anos quando aconteceu o atentado de 11 de
setembro
A religião era irrelevante na minha
vida pessoal e, durante meus anos na escola, a religião só proporcionava um
fundo de notícias de violência e extremismo. Eu lia avidamente Dawkins, Harris
e Hitchens, cujas ideias eram tão parecidas com as minhas que eu empurrava
quaisquer dúvidas para o fundo da minha mente. Afinal, qual alternativa havia
lá para o ateísmo?
Como uma adolescente, eu percebi que
precisava ler além dos meus polemistas favoritos, como começar a pesquisar as
ideias dos mais egrégios inimigos da razão, os católicos, a fim de defender com
mais propriedade minha visão de mundo. Foi aqui, ironicamente, que os problemas
começaram
Eu comecei lendo o
discurso do Papa Bento XVI em Ratisbona, ciente de que tinha gerado
controvérsia na ocasião e era uma espécie de tentativa – fútil, é claro – de
reconciliar fé e razão. Também li o menor livro de sua autoria que pude
encontrar, On Conscience02. Eu esperava – e desejava – achar
preconceitos e irracionalidade para sustentar meu ateísmo. Ao
contrário, fui colocada diante de um Deus que era o Logos; não um ditador
sobrenatural esmagador da razão humana, mas o parâmetro de bondade e verdade
objetiva que se expressa a Si mesmo e para o qual nossa razão se dirige e no
qual ela se completa, uma entidade que não controla nossa moral roboticamente,
mas que é a fonte de nossa percepção moral, uma percepção que requer
desenvolvimento e formação por meio do exercício consciente do livre-arbítrio
Era uma percepção da fé mais humana,
sutil e fiável do que eu esperava. Não me conduziu a uma epifania espiritual
dramática, mas animou-me a buscar mais no catolicismo, a reexaminar com um
olhar mais crítico alguns dos problemas que tinha com o ateísmo.
Primeiro, moralidade. Para mim, uma
moralidade ateísta conduzia a duas áreas igualmente problemáticas: ou era
subjetiva a ponto de ser insignificante ou, quando seguida racionalmente,
implicava resultados intuitivamente repulsivos, como a postura de Sam Harris
sobre a tortura. Mas as mais atraentes teorias que poderiam contornar esses
problemas, como a ética das virtudes, geralmente o faziam a partir da
existência de Deus. Antes, com minha compreensão caricata de teísmo, eu acharia
isso absurdo. Agora, com o discernimento mais profundo que eu tinha começado a
desenvolver, eu não tinha tanta certeza.
Depois, metafísica. Eu
percebi rapidamente que confiar nos neoateístas para argumentar contra a
existência de Deus era um erro: Dawkins, por exemplo, dá um tratamento
dissimuladamente superficial a Tomás de Aquino em "Deus, um delírio",
abordando apenas o resumo das cinco vias de São Tomás – e distorcendo as provas
resumidas, para variar.Informando-me melhor sobre as ideias aristotélico-tomistas,
eu as considerei uma explanação bastante válida do mundo natural, contra a qual
os filósofos ateístas não tinham conseguido fazer um ataque coerente
O que eu ainda não entendia era como
uma teologia que operava em harmonia com a razão humana poderia ser, ao mesmo
tempo, nas palavras de Bento XVI, "uma teologia fundamentada na fé
bíblica". Eu sempre considerei que a sola scriptura, mesmo com suas
evidentes falácias e deficiências, era de certo modo consistente, acreditando nos
cristãos que leem a Bíblia. Então eu fiquei surpresa ao descobrir que esta
visão poderia ser refutada com veemência tanto pelo ponto de vista católico –
lendo a Bíblia através da Igreja e de sua história, à luz da Tradição – como
pelo ateu.
Eu procurei por
absurdos e inconsistências na fé católica que pudessem descarrilhar minhas
ideias da inquietante conclusão à qual eu me dirigia, mas o irritante do
catolicismo é sua coerência: uma vez que você aceita a estrutura básica de
conceitos, todas as outras coisas se ajustam com uma rapidez incrível. "Os
mistérios cristãos são um todo indivisível", escreveu Edith Stein em
"A ciência da cruz"03. "Se entramos em um, somos levados
a todos os outros". A beleza e autenticidade até das mais aparentemente
difíceis partes do catolicismo, como a moral sexual, se tornaram claras quando
não eram mais vistas como uma lista descontextualizada de proibições, mas como
componentes essenciais no corpo complexo do ensinamento da Igreja
Havia um último problema, porém: minha
falta de familiaridade com a fé como algo vivido. Para mim, toda a prática e a
língua da religião – oração, hinos, Missa – eram algo totalmente estranho, em
direção ao qual eu relutava em dar o primeiro passo
Minhas amizades com católicos
praticantes finalmente convenceram-me que eu tinha que fazer uma decisão. Fé,
no fim das contas, não é meramente um exercício intelectual, um assentimento a
certas proposições; é um radical ato da vontade, que engendra uma mudança total
da pessoa. Os livros levaram-me a ver o catolicismo como uma conjectura
plausível, mas o catolicismo como uma verdade viva eu só entendi observando
aqueles que já serviam a Igreja por meio da vida da graça
Eu cresci numa
cultura que tem amplamente virado as costas para a fé. Por isso eu era capaz de
levar minha vida adiante com meu ateísmo mal concebido e incontestado, e isso
explica pelo menos parcialmente a grande extensão de apoio popular que têm os
neoateístas: para cada ateu ponderado e bem informado, existirão outros
com nenhuma experiência pessoal de religião e nenhum interesse em argumentar
simplesmente indo na onda da maré cultural
Enquanto a popularidade do ateísmo
beligerante e reacionário diminui, cristãos sérios capazes de explicar e
defender sua fé serão uma presença crescentemente vital na esfera pública. Eu
espero que eu seja um pequeno exemplo da força de atração que o catolicismo
ainda carrega em uma época que lhe parece às vezes irascivelmente oposta
Por Megan Hodder, 24 de maio de 2013
Fonte: The Catholic
Herald
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