O Autor do universo é Deus, o qual é também Autor da vocação e da inteligência. O Autor de tudo quanto existe baseou a existência das criaturas um único e mesmo princípio. Por isso, quando o homem decai moralmente, a natureza à volta se ressente disso e chega até a se manifestar. Talvez a mais forte demonstração de que isto é assim ocorreu quando Jesus, na crucificação, entregou o espírito a Deus: “...a terra tremeu, fenderam-se as rochas.” (Mat 7, 51). Tanto ficou clara a relação entre a imoralidade do ato e a desordem do universo, que o evangelista prossegue: “O centurião e seus homens que montavam guarda a Jesus, diante do estremecimento da terra e de tudo o que se passava, disseram entre si, possuídos de grande temor: Verdadeiramente, este homem era Filho de Deus!” (Mat. 27, 54).
As vocações naturais refletem, no plano da inteligência do homem, a força do mesmo princípio que estrutura o cosmos. Quando o homem estuda o real, a existência das coisas, escorado na força de sua inteligência natural, descobre quatro causas sempre presentes: a final, que esclarece o fim para o qual as coisas tendem (o cosmos para a glória de Deus e a inteligência do homem para o conhecimento de Deus); a eficiente, aquela que desencadeia o existir das coisas; a formal, a que esclarece o que as coisas são; a material, de que as coisas são feitas. Cada pessoa é sensível mais a uma do que a outras dessas causas. Assim, um homem é sensível à causa final das coisas, daí se dizer que possui vocação filosófica; outro, ao seu existir concreto, em cujo caso diz-se que possui vocação científica; outro, à unidade que as coisas constituem, daí dizer-se que possui vocação artística; outros, ao peso que as coisas têm sobre a alma de terceiros, de quem se diz que possui vocação interpersonalística.
Essas relações podem ser verificadas exaustivamente, quanto mais se observem as coisas e as razões de sua atração sobre as pessoas.
A importância prática da reflexão sobre a relaçã, entre as coisas e a inteligência das pessoas é esta: uma criança se torna tanto mais consumista quanto mais sua vida cotidiana esteja afastada daquilo que nela é vocacional. Uma criança que não recebe a atenção amorosa dos pais se torna consumista; este consumismo aumenta prodigiosamente quando, além desta privação, sua vida cotidiana não possui os objetos que são conaturais com sua vocação.
A vocação natural dota cada pessoa para encontrar solução para dificuldades e perigos inerentes ao mundo do discurso, ao da ação prática, ao da arte e ao da sociabilidade, pois possuir esta ou aquela vocação significa possuir sistema nervoso e psicológico adequado para bem se haver sob este ou aquele tipo de stress. Quem possui vocação para o mundo do discurso, é capaz de ter uma maior resistência nervosa e psicológica que o imuniza contra a perdição da soberba e do orgulho. O mesmo se diga para os que possuem vocação para a solução prática de problemas, atribuição da vocação científica, como se vê no caso do médico, que lida com doentes portadores de doenças contagiosas e não se contamina. E assim com os demais casos.
Todo esse e outros saberes estão contidos na passagem citada no início deste artigo: a imoralidade do ato de matar Jesus, Homem verdadeiro, provocou a reação da própria natureza. Da mesma maneira que a consciência do pecado deve nos afetar, e com força, toda vez que, por ação, omissão ou intenção, façamos o contrário do que nos inclina nossa vocação de cristão, que é viver segundo os mandamentos de Deus e da Igreja, ainda que isso nos insurja contra os homens.
Joel, 06 de abril de 2012.
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