PAPA
LEÃO XIII: INSCRUTABILI DEI CONSILIO - SOBRE O MODERNISMO
CARTA ENCÍCLICA INSCRUTABILI DEI CONSILIO , sobre os males da sociedade moderna, suas
causas e seus remédios
PAPA
LEÃO XIII
A
todos os Nossos Veneráveis Irmãos Patriarcas,Primazes, Arcebispos e Bispos do
orbe católico,em graça e comunhão com a Sé Apostólica
Veneráveis
Irmãos, Saudação e Benção Apostólica
INTRODUÇÃO
1. Apenas elevado, por
um impenetrável desígnio de Deus, e sem o merecer, ao fastígio da Dignidade
Apostólica, sentimo-Nos impelido por um vivo desejo e por uma espécie de
necessidade a dirigir-Nos a Vós por carta, não somente para vos manifestar os
sentimentos da Nossa profunda afeição, mas ainda para cumprir junto a Vós,
chamados que fostes a compartilhar a Nossa solicitude, os deveres do cargo que
Deus nos confiou, animando-vos a sustentar conosco os combates dos tempos
atuais pela Igreja de Deus e pela salvação das almas
I.
OS MALES DA SOCIEDADE
2. Efetivamente, desde
os primeiros instantes do Nosso Pontificado, o que se oferece aos Nossos
olhares é o triste espetáculo dos males que de todas as partes acabrunham o
gênero humano: é essa subversão geral das verdades supremas que são como que os
fundamentos em que se apóia o estado da sociedade humana; é essa audácia dos
espíritos que não podem suportar nenhuma autoridade legítima; é essa causa
perpétua de dissensões de onde nascem as querelas intestinas e as guerras
cruéis e sangrentas; é o desprezo das leis que regulam os costumes e protegem a
justiça; é a insaciável cupidez das coisas que passam e o esquecimento das
coisas eternas, levados ambos até esse furor insensato que por toda parte induz
tantos infelizes a levarem sobre si mesmos, sem tremerem, mãos violentas; é a
administração inconsiderada da fortuna pública, o esbanjamento, a malversação,
como também a impudência dos que, cometendo as maiores espertezas, se esforçam
por dar-se a aparência de defensores da pátria, da liberdade e de todos os
direitos; é, enfim, essa espécie de peste mortal que, insinuando-se nos membros
da sociedade humana, não deixa a esta repouso e lhe prepara novas revoluções e
funestas catástrofes
II. A CAUSA
DESSES MALES
3. Ora, havemo-nos
convencido de que esses males têm a sua principal causa no desprezo e na
rejeição dessa santa e augustíssima Autoridade da Igreja que governa o gênero
humano em nome de Deus, e que é a salvaguarda e o apoio de toda autoridade
legítima. Os inimigos da ordem pública, que perfeitamente o têm compreendido,
pensaram que nada era mais próprio para subverter os fundamentos da sociedade
do que atacar sem trégua a Igreja de Deus, do que torná-la odiosa e odiável por
meio de vergonhosas calúnias, representando-a como inimiga da verdadeira
civilização, do que enfraquecer-lhe a autoridade e a força por meio de feridas
incessantemente renovadas, e do que derrubar o poder supremo do Pontífice
romano, que é neste mundo o guarda e o defensor das regras eternas e imutáveis
do bem e do justo. Daí, pois, saíram essas leis subversivas da divina
constituição da Igreja Católica, leis cuja promulgação na maioria dos países
temos de deplorar; daí promanaram o desprezo do poder e espiritual, e os
entraves opostos ao exercício do ministério eclesiástico, e a dispersão das
Ordens religiosas, e o confisco dos bens que serviam para sustentar os
ministros da Igreja e os pobres; daí, ainda, o resultado de haverem sido
subtraídas à salutar direção da Igreja as instituições públicas consagradas à
caridade e à beneficência; daí essa liberdade desenfreada de ensinar e de
publicar tudo o que é mal, ao passo que, contrariamente, de toda maneira se
viola e se oprime o direito da Igreja à instrução e à educação da juventude. E
outro não foi o fim que os homens se propuseram apoderando-se do Principado
temporal que a Divina Providência havia longos séculos concedera ao Pontífice
romano para que este livremente e sem peias pudesse, para a salvação eterna dos
povos, usar do poder que Jesus Cristo lhe conferiu
III.
REMÉDIOS PARA OS MALES
4. Se relembramos,
Veneráveis Irmãos, esses funestos e inúmeros males, não é para aumentar a
tristeza que por si mesmo faz nascer em Vós tão deplorável estado de coisas;
mas é por compreendermos que, à vista disso, reconhecereis qual é a gravidade
da situação que reclama o Nosso ministério e o Nosso zelo, e com que solicitude
devemos, nestes tempos inditosos, trabalhar para defender e garantir com todas
as Nossas forças a Igreja de Cristo e a dignidade da Sé Apostólica atacada por
tantas calúnias
Caridade
fraterna
5. Bem claro e evidente
é, Veneráveis Irmãos, que à causa da civilização faltam fundamentos sólidos se
ela não se apóia nos princípios eternos da verdade e nas leis imutáveis do
direito e da justiça, se um amor sincero não une entre si as vontades dos
homens e não regula felizmente a distinção e os motivos dos seus deveres
mútuos. Ora, quem ousaria negá-lo? Não foi a Igreja quem, pregando o Evangelho
entre as nações, fez brilhar a luz da verdade no meio dos povos selvagens e
imbuídos de superstições vergonhosas, e quem os reconduziu ao conhecimento do
divino Autor de todas as coisas e ao respeito de si mesmos? Não foi a Igreja
quem, fazendo desaparecer a calamidade da escravidão, revocou os homens à
dignidade da sua nobilíssima natureza? Não foi ela quem, desfraldando sobre
todas as plagas da terra o estandarte da Redenção, atraindo a si as ciências e
as artes ou cobrindo-as com a sua proteção, por suas excelentes instituições de
caridade, onde todas as misérias acham alívio, por suas fundações e pelos
depósitos cuja guarda aceitou, em toda parte civilizou nos seus costumes
privados e públicos o gênero humano, reergueu-o da sua miséria e formou-o, com
toda sorte de desvelos, para um gênero de vida conforme à dignidade e à
esperança humanas? E agora, se um homem de espírito são comparar a época em que
vivemos, tão hostil à Religião e à Igreja de Jesus Cristo, com aqueles tempos
tão felizes em que a Igreja era honrada pelos povos como uma Mãe, convencer-se-á
inteiramente de que a nossa época cheia de perturbações e destruições se
precipita direitinho e rapidamente para a sua perda, e que aqueles tempos foram
tanto mais florescentes em excelentes instituições, em tranqüilidade da vida,
em riqueza e em prosperidade, quanto mais submissos ao governo da Igreja e
quanto mais observantes das suas leis se mostraram os povos. E, se os bens
numerosos que acabamos de relembrar e que deveram o seu nascimento ao
ministério da Igreja e à sua influência salutar, são verdadeiramente obras e
glórias da civilização humana, muitíssimo longe está, pois, que a Igreja de
Jesus Cristo abomine a civilização e a repila, visto ser a si, pelo contrário,
que ela crê caber inteiramente a honra de lhe haver sido a nutriz, a mestra e a
mãe
6. Bem mais: essa
espécie de civilização que, ao contrário, repugna às santas doutrinas e às leis
da Igreja, não passa de uma falsa civilização, e deve ser considerada como um
vão nome sem realidade. É esta uma verdade de que nos fornecem prova manifesta
esses povos que não viram brilhar a luz do Evangelho; na vida deles podem-se
ter vislumbrado algumas falsas aparências de educação mais cultivada, porém os
verdadeiros e sólidos bens da civilização não prosperariam neles
Respeito
à autoridade da Igreja
7. Com efeito, não se
deve considerar como civilização perfeita a que consiste em desprezar
audaciosamente todo poder legítimo; e não se deve saudar com o nome de
liberdade a que tem por cortejo vergonhoso e miserável a propagação desenfreada
dos erros, o livre saciamento das cupidezes perversas, a impunidade dos crimes
e dos malfeitores e a opressão dos melhores cidadãos de toda classe. Esses são
princípios errôneos, perversos e falsos; não poderiam, pois, certamente ter
força para aperfeiçoar a natureza humana e fazê-la prosperar, pois o pecado
torna os homens miseráveis (Prov 14, 34); pelo contrário, absolutamente
inevitável se torna que, após haverem corrompido as mentes e os corações, pelo
seu próprio peso esses princípios lançam os povos em toda sorte de desgraças,
que subvertem toda ordem legítima e conduzem assim, mais cedo ou mais tarde, a
situação e a tranqüilidade pública à sua última perda
8. Ao contrário, se
contemplarmos as obras do Pontificado Romano, que pode haver de mais iníquo do
que negar quanto os Pontífices Romanos têm nobremente e bem merecido de toda a
sociedade civil? Nossos predecessores, com efeito, querendo prover à felicidade
dos povos, empreenderam lutas de todo gênero, suportaram rudes fadigas e nunca
hesitaram em se expor a ásperas dificuldades; de olhos fitos no céu, não
abaixaram a fronte ante as ameaças dos maus, nem cometeram a baixeza de se
deixarem desviar do seu dever, fosse pelas lisonjas, fosse pelas promessas. Foi
esta Sé Apostólica quem apanhou os restos da antiga sociedade destruída e os
reuniu juntos. Ela foi também o facho amigo que iluminou a civilização dos
tempos cristãos; a âncora de salvação no meio das mais terríveis tempestades
que tenham agitado a raça humana; o vínculo sagrado da concórdia que une entre si
nações afastadas e costumes diversos; ela foi enfim o centro comum onde se
vinha buscar tanto a doutrina da fé e da religião quanto os auspícios de paz e
os conselhos dos atos a cumprir. Que mais? É uma glória dos Pontífices Romanos
a de se haverem sempre e sem trégua oposto como uma muralha e um baluarte a que
a sociedade humana tornasse a cair na superstição e na antiga barbárie
9. Mas, oxalá que essa
autoridade salutar nunca tivesse sido desprezada ou repudiada! Não teria então
o poder civil perdido essa auréola augusta e sagrada que o distinguia, que a
religião lhe dera, e que é só o que torna o estado de obediência nobre e digno
do homem; não se teriam visto atear-se tantas sedições e guerras que foram a
causa funesta de calamidades e morticínios; e tantos reinos, outrora tão
florescentes, tombados hoje do fastígio da prosperidade, não estariam esmagados
sob o peso de toda sorte de miséria. Temos ainda um exemplo das desgraças
acarretadas pelo repúdio da autoridade da Igreja nos povos orientais que,
quebrando os laços dulcíssimos que os uniam a esta Sé Apostólica, perderam o
esplendor da sua antiga reputação, a glória das ciências e das letras e a
dignidade do seu império
10. Ora, esses
admiráveis benefícios que a Sé Apostólica derramou sobre todas as plagas da
terra, e de que fazem fé os mais ilustres monumentos de todos os tempos, foram
especialmente sentidos por esta terra da Itália que tirou do Pontificado Romano
frutos tanto mais abundantes quanto, em razão da sua situação, se achava ela mais
próxima dele. É com efeito, aos Pontífices Romanos que a Itália deve
reconhecer-se devedora da glória sólida e da grandeza com que brilhou no meio
das outras nações. A autoridade e os desvelos paternais deles várias vezes a
protegeram contra os vivos ataques dos inimigos, e foi deles que ela recebeu o
alivio e o socorro necessário para que a fé católica fosse sempre integralmente
conservada no coração dos Italianos
11. Estes méritos dos
Nossos predecessores, para não citar outros, são-Nos atestados sobretudo pela
história dos tempos de S. Leão Magno, de Alexandre III, de Inocêncio III, de S.
Pio V, de outros Pontífices, pelos cuidados e sob os auspícios dos quais a
Itália escapou à última destruição de que estava ameaçada pelos bárbaros,
conservou intacta a antiga fé, e, no meio das trevas e das barbarias de uma
época mais grosseira, desenvolveu a luz das ciências e o esplendor das artes, e
as conservou florescentes. São-Nos eles atestados ainda por esta santa cidade,
sede dos Pontífices, a qual deles tirou esta grande vantagem não somente de ser
a mais forte cidadela da fé, mas ainda de haver granjeado a admiração e o
respeito do mundo inteiro, tornando-se o asilo das belas artes e a mansão da
sabedoria. E, como a grandeza destas coisas foi transmitida à lembrança eterna
da posteridade pelos monumentos da história, fácil é compreender que só por uma
vontade hostil e por uma indigna calúnia, empregadas ambas em enganar os
homens, é que se tem feito acreditar, pela palavra e pelos escritos, ter sido
esta Sé Apostólica um obstáculo à civilização dos povos e à prosperidade da
Itália
Restauração
do Poder Temporal dos Papas
12. Se, pois, todas as
esperanças da Itália e do mundo inteiro estão colocadas nessa força, tão
favorável ao bem e à unidade de todos, de que goza a autoridade da Sé
Apostólica, e nesse vínculo tão estreito que une todos os fiéis ao Pontífice
Romano, compreendemos que nada devemos ter mais a peito do que conservar
religiosamente intacta a dignidade da Cátedra Romana e estreitar cada vez mais
a união dos membros com a cabeça e a dos filhos com seu Pai
13. É por isso que,
para manter antes de tudo, tanto quanto está em Nosso poder, os direitos da
liberdade desta Santa Sé, jamais cessaremos de combater para conservar à nossa
autoridade a obediência que lhe é devida, para afastar os obstáculos que
impedem a plena liberdade do Nosso ministério e do Nosso poder, e para
conseguir o retorno àquele estado de coisas em que os desígnios da Divina
Sabedoria haviam outrora colocado os Pontífices Romanos. E não é, Veneráveis
Irmãos, nem por espírito de ambição, nem por desejo de domínio que somos
impelidos a pedir esse retorno; mas sim pelos deveres do Nosso cargo e pelos
compromissos religiosos do juramento que Nos liga: ademais, somos a isso
impelido não somente pela consideração de que esse principado Nos é necessário
para defender e conservar a plena liberdade do poder espiritual, como ainda
porque tem sido plenamente verificado que, quando se trata do Principado
temporal da Sé Apostólica, é a própria causa do bem público e da salvação de
toda a sociedade humana que está em questão. Daí se segue que, em razão do
dever do Nosso cargo, que nos obriga a defender os direitos da Santa Igreja,
não Nos podemos dispensar de renovar e de continuar nesta carta as declarações
e os protestos que o Nosso predecessor Pio IX, de santa memória, várias vezes
formulou e renovou, tanto contra a ocupação do poder temporal como contra a
violação dos direitos da Igreja Romana. Volvemos ao mesmo tempo Nossa voz para
os príncipes e para os chefes supremos dos povos e instantemente lhes
suplicamos, pelo augusto nome do Deus poderosíssimo, não repelirem o auxilio
que a Igreja lhes oferece em momento tão necessário, cercarem amistosamente,
como de desvelos unânimes, esta fonte de autoridade e de salvação, e a ela se
prenderem cada vez mais pelos laços de um amor estreito e de um profundo
respeito. Faça o céu que eles reconheçam a verdade de tudo o que havemos dito,
e se persuadam de que a doutrina de Jesus Cristo, como dizia Santo Agostinho, é
a grande salvação do país quando as pessoas conformam a ela seus atos (Ep.
138)! Possam eles compreender que a sua segurança e tranqüilidade, tanto como a
segurança e a tranqüilidade públicas, dependem da conservação da Igreja e da
obediência que lhes prestarem, e aplicar então todos os seus pensamentos e
todos os seus cuidados a fazer desaparecer os males de que a Igreja e seu Chefe
visível são afligidos! Possa daí, enfim, resultar que os povos que eles
governam entrem na trilha da justiça e da paz, e gozem de uma era feliz de prosperidade
e de glória
Fidelidade
à Santa Sé Apostólica
14. Querendo também, em
seguida, manter cada vez mais estreita a concórdia entre todo o rebanho
católico e seu Pastor supremo, com afeto particular aqui Vos concitamos,
Veneráveis Irmãos, e vos exortamos calorosamente a, pelo Vosso zelo sacerdotal
e pela Vossa vigilância pastoral, inflamardes do amor da religião os fiéis que
Vos são confiados, a fim de que eles se prendam cada vez mais estreitamente a
esta Cátedra de verdade e de justiça, a fim de que aceitem todos a doutrina
dela com a mais profunda submissão de espírito e de vontade, e a fim de que
rejeitem, enfim, absolutamente todas as opiniões, mesmo as mais difundidas, que
souberem ser contrárias aos ensinamentos da Igreja. Sobre este assunto, os
Pontífices Romanos Nossos predecessores, e em particular Pio IX, de santa
memória, sobretudo no concilio do Vaticano, tendo incessantemente diante dos
olhos estas palavras de S. Paulo: Vede que ninguém vos engane por meio da
filosofia ou de um vão artifício que seja segundo a tradição dos homens ou
segundo os elementos do mundo, e não segundo Jesus Cristo (Col 2, 8), todas as
vezes que se tornou necessário não descuraram reprovar os erros que irrompiam e
fulminá-los com as censuras apostólicas. Nós também, seguindo as pegadas dos
Nossos predecessores, confirmamos e renovamos todas essas condenações do alto
desta Sé Apostólica de verdade, e ao mesmo tempo pedimos vivamente ao Pai das
luzes faça com que todos os fiéis, inteiramente unidos num mesmo sentimento e
numa mesma crença, pensem e falem absolutamente como Nós. O Vosso dever,
Veneráveis Irmãos, é empregardes os Vossos desvelos assíduos em espalhar ao
longe no campo do Senhor a semente das celestes doutrinas, e em fazer penetrar
oportunamente na mente dos fiéis os princípios da fé católica, para que lancem
nela profundas raízes e nela se conservem ao abrigo do contágio dos erros.
Quanto maiores esforços fazem os inimigos da religião para ensinar aos homens
sem instrução, e sobretudo aos jovens, princípios que lhes obscurecem a mente e
corrompem o coração, tanto mais é precioso trabalhar ardentemente não só para
fazer prosperar um hábil e sólido método de educação, mas sobretudo para não se
apartar da fé católica, no ensino das letras e das ciências e em particular da
filosofia, da qual depende em grande parte a verdadeira direção das outras
ciências, e que, longe de tender a derrubar a divina revelação, pelo contrário,
se alegra de lhe aplanar o caminho e de defendê-la contra os seus assaltantes,
como pelo exemplo e pelos escritos no-lo ensinaram o grande Agostinho e o
Doutor Angélico, e todos os demais mestres da sabedoria cristã
Reforma
do Lar cristão
15. Todavia, necessário
se torna que, para ser uma garantia da verdadeira fé e da religião, e uma
salvaguarda da integridade dos costumes, essa excelente educação da juventude
comece no próprio interior da família, dessa família que, infelizmente
perturbada nos tempos atuais, só pode recuperar a sua liberdade por essas leis
que o próprio divino Autor lhe fixou ao instituí-la na Igreja. Jesus Cristo,
com efeito, elevando à dignidade de sacramento a aliança do matrimônio, que Ele
quis fazer servir a simbolizar a sua união com a Igreja, não somente tornou
mais santa a ligação dos esposos, como também preparou tanto aos pais como aos
filhos meios eficacíssimos próprios para lhes facilitar, pela observância dos
seus deveres recíprocos, a obtenção da felicidade temporal e eterna
16. Infelizmente,
depois que leis ímpias e sem nenhum respeito pela santidade desse grande
sacramento o rebaixaram à mesma categoria dos contratos civis, tem sucedido
que, profanando a dignidade do matrimônio cristão, cidadãos tenham adotado o
concubinato legal ao invés das núpcias religiosas; esposos têm descurado os
deveres da fé que se haviam prometido, filhos têm recusado aos pais a
obediência e o respeito que lhes deviam, os laços da caridade doméstica têm-se
afrouxado, e, o que é bem triste exemplo e mui prejudicial aos costumes
públicos, a um amor insensato muitíssimas vezes têm sucedido separações
funestas e perniciosas. Impossível é, Veneráveis Irmãos, que a vista dessa
miséria e dessas calamidades lamentáveis não excite o Vosso zelo e não nos
induza a, com cuidado e sem tréguas, exortar os fiéis confiados à Vossa guarda
a prestarem ouvido dócil aos ensinamentos que se relacionam com a santidade do
matrimônio cristão, e a obedecerem às leis da Igreja que regulam os deveres dos
esposos e dos filhos
Reforma
dos costumes públicos
17. Assim é que
conseguireis essa reforma tão desejável dos costumes e do modo de viver de cada
homem em particular, porquanto, assim como de um tronco apodrecido não podem
brotar senão galhos estragados e frutos pecos, assim também por um triste
contágio essa funesta chaga que corrompe as famílias estende-se a todos os
cidadãos e torna-se um mal e um defeito comum. Ao contrário, uma vez moldada a
sociedade doméstica a uma forma de vida cristã, cada membro se acostumará pouco
a pouco a amar a religião e a piedade, a detestar as falsas e perniciosas
doutrinas, a praticar a virtude, a obedecer aos seus superiores e a reprimir
essa procura insaciável do interesse puramente privado que tão profundamente
abaixa e enerva a natureza humana. Um bom meio para realizar este objetivo será
dirigir e incentivar essas pias associações que, mormente nestes tempos de
agora, têm sido mais particularmente instituídas para favorecer os interesses
católicos
18. Em verdade,
Veneráveis Irmãos, grandes coisas, coisas mesmo superiores às forças humanas
são as que Nós assim abraçamos com os Nossos votos e com as Nossas esperanças;
mas, como Deus fez as nações do mundo curáveis e fundou a sua Igreja para a
salvação dos povos, prometendo assisti-la até à consumação dos séculos, temos a
firme confiança de que o gênero humano, ferido por tantos males e calamidades,
graças aos Vossos esforços acabará buscando a salvação e a prosperidade na
submissão à Igreja e no magistério infalível desta Cátedra Apostólica
CONCLUSÃO
Regozijo
pela união e concórdia entre Bispos
19. E agora, Veneráveis Irmãos, antes de encerrarmos
esta carta, sentimos a necessidade de participar-vos a Nossa alegria ao vermos
a união admirável e a concórdia que reinam entre Vós e Vos unem tão perfeitamente
a esta Sé Apostólica, e em verdade ficamos persuadidos de que essa perfeita
união é não somente um baluarte inexpugnável contra os assaltos dos inimigos,
mas é ainda um presságio feliz e próspero de tempos melhores para a Igreja; ela
proporciona um grande alívio à Nossa fraqueza, e levanta, assim, de maneira
feliz o Nosso espírito, ajudando-Nos a sustentar com ardor, no difícil múnus
que havemos recebido, todas as fadigas e todos os combates pela Igreja de Deus
Agradecimento
pelas declarações de amor e obediência
20. Também não podemos
separar dessas causas de esperanças e de alegria que acabamos de Vos
manifestar, essas declarações de amor e de obediência que, nestes primórdios do
Nosso pontificado, Vós, Veneráveis Irmãos, haveis formulado à Nossa humilde
pessoa, e que também Nos têm sido feitas por tantos eclesiásticos e fiéis,
provando assim pelas cartas enviadas, pelas larguezas recolhidas, pelas
peregrinações realizadas e por tantas outras provas de piedade, que essa
devoção e essa caridade que eles não haviam cessado de testemunhar ao Nosso
digno Predecessor permaneceram tão firmes, tão estáveis e tão íntegras, que se
não arrefeceram à vinda de um sucessor tão pouco digno dessa herança. À vista
de testemunhos tão esplêndidos da fé católica, devemos humildemente confessar
que o Senhor é bom e benevolente, e a Vós, Veneráveis Irmãos, e a todos esses
filhos queridos de quem as havemos recebido, exprimimos os numerosos e
profundos sentimentos de gratidão que inundam o nosso coração, cheios de
confiança de que, na angústia e nas dificuldades dos tempos atuais, o Vosso
zelo e o Vosso amor, bem como os dos fiéis, jamais Nos faltarão. Tão pouco
duvidamos de que esses notáveis exemplos de piedade filial e de virtude cristã
contribuam poderosamente para tocar o coração do Deus misericordiosíssimo, e
para o fazer deitar um olhar de benevolência sobre o seu rebanho e conceder à
Igreja a paz e a vitória. E, como estamos convencido de que essa paz e essa
vitória Nos serão mais pronta e mais facilmente concedidas se os fiéis
dirigirem constantemente a Deus preces e votos para lhas pedir, vivamente Vos
exortamos, Veneráveis Irmãos, a excitardes com esse fim o zelo dos fiéis,
concitando-os a empregarem como mediadora junto a Deus a Imaculada Rainha dos
Céus, e como intercessores S. José, padroeiro celeste da Igreja, e os santos
apóstolos Pedro e Paulo, a cujo poderoso patrocínio recomendamos a nossa
humilde pessoa, todas as ordens da hierarquia eclesiástica, e todo o rebanho do
Senhor
Votos
e bênção Apostólica
21. Finalmente,
desejamos que estes dias em que festejamos o solene aniversário da ressurreição
de Jesus Cristo sejam, para Vós e para todo o rebanho do Senhor, felizes,
salutares e cheios de santa alegria, pedindo a Deus, que é tão bom, apague as
faltas que havemos cometido e nos faça misericordiosamente remissão da pena que
elas Nos mereceram, e isso pela virtude desse Sangue do Cordeiro imaculado que
apague a sentença lavrada contra nós (Col 2, 14)
22. A graça de Nosso
Senhor Jesus Cristo, a caridade de Deus e a comunicação do Espírito Santo sejam
com todos vós (2 Cor 13, 13), Veneráveis Irmãos, e é de todo coração que, a Vós
e a cada um em particular, bem como aos Nossos caros filhos o clero e os fiéis
de vossas Igrejas, concedemos a bênção apostólica como penhor da Nossa especial
benevolência e como presságio da proteção celeste
Dado
em Roma, junto a S. Pedro, no dia solene de Páscoa, a 21 de abril do ano de
1878, primeiro ano do Nosso Pontificado
PAPA
LEÃO, PP XIII
FONTE:
VATICANO
LITURGIA DO DIA 21 DE ABRIL DE 2014
PRIMEIRA LEITURA (AT 2,14.22-32)
LEITURA
DOS ATOS DOS APÓSTOLOS - No dia de Pentecostes, 14Pedro de pé,
junto com os onze apóstolos, levantou a voz e falou à multidão: 22”Homens de
Israel, escutai estas palavras: Jesus de Nazaré foi um homem aprovado por Deus,
junto de vós, pelos milagres, prodígios e sinais que Deus realizou, por meio
dele, entre vós. Tudo isto vós bem o sabeis. 23Deus, em seu desígnio e
previsão, determinou que Jesus fosse entregue pelas mãos dos ímpios, e vós o
matastes, pregando-o numa cruz. 24Mas Deus ressuscitou a Jesus, libertando-o
das angústias da morte, porque não era possível que ela o dominasse. 25Pois
Davi dele diz: ‘Eu via sempre o Senhor diante de mim, pois está à minha direita
para eu não vacilar. 26Alegrou-se por isso meu coração e exultou minha língua e
até minha carne repousará na esperança. 27Porque não deixarás minha alma na
região dos mortos nem permitirás que teu Santo experimente corrupção.
28Deste-me a conhecer os caminhos da vida e a tua presença me encherá de
alegria’. 29Irmãos, seja-me permitido dizer com franqueza que o patriarca Davi
morreu e foi sepultado e seu sepulcro está entre nós até hoje. 30Mas, sendo
profeta, sabia que Deus lhe jurara solenemente que um de seus descendentes
ocuparia o trono. 31É, portanto, a ressurreição de Cristo que previu e anunciou
com as palavras: ‘Ele não foi abandonado na região dos mortos e sua carne não
conheceu a corrupção’. 32Com efeito, Deus ressuscitou este mesmo Jesus e disto
todos nós somos testemunhas” - Palavra
do Senhor
SALMO RESPONSORIAL (SL 15)
GUARDAI-ME, Ó DEUS, PORQUE EM VÓS ME
REFUGIO!
— Guardai-me, ó Deus,
porque em vós me refugio! Digo ao Senhor: “Somente vós sois meu Senhor; Ó
Senhor, sois minha herança e minha taça, meu destino está seguro em vossas
mãos!
— Eu bendigo o Senhor,
que me aconselha, e até de noite me adverte o coração. Tenho sempre o Senhor
ante meus olhos, pois se o tenho a meu lado não vacilo
— Eis por que meu
coração está em festa, minha alma rejubila de alegria, e até meu corpo no
repouso está tranquilo; pois não haveis de me deixar entregue à morte, nem vosso
amigo conhecer a corrupção
— Vós me ensinais vosso
caminho para a vida; junto a vós, felicidade sem limites, delícia eterna e
alegria ao vosso lado!
EVANGELHO (MT 28,8-15)
PROCLAMAÇÃO
DO EVANGELHO DE JESUS CRISTO + SEGUNDO MATEUS - Naquele tempo,
8as mulheres partiram depressa do sepulcro. Estavam com medo, mas correram com
grande alegria, para dar a notícia aos discípulos. 9De repente, Jesus foi ao
encontro delas, e disse: “Alegrai-vos!” As mulheres aproximaram-se, e
prostraram-se diante de Jesus, abraçando seus pés. 10Então Jesus disse a elas:
“Não tenhais medo. Ide anunciar a meus irmãos que se dirijam para a Galileia.
Lá eles me verão”. 11Quando as mulheres partiram, alguns guardas do túmulo
foram à cidade, e comunicaram aos sumos sacerdotes tudo o que havia acontecido.
12Os sumos sacerdotes reuniram-se com os anciãos, e deram uma grande soma de
dinheiro aos soldados, 13dizendo-lhes: “Dizei que os discípulos dele foram
durante a noite e roubaram o corpo, enquanto vós dormíeis. 14Se o governador
ficar sabendo disso, nós o convenceremos. Não vos preocupeis”. 15Os soldados
pegaram o dinheiro, e agiram de acordo com as instruções recebidas. E assim, o
boato espalhou-se entre os judeus, até o dia de hoje - Palavra da Salvação
MENSAGEM DE NOSSA
SENHORA EM MEDJUGORJE – “Hoje estou
feliz, ainda que no meu Coração haja um pouco de tristeza, por causa de todos
aqueles que iniciaram este caminho e depois o abandonaram. A minha presença
aqui é, pois, para conduzi-los por um caminho novo, o caminho da salvação. Por
isso, convido-os, dia após dia à conversão. Mas, se não rezarem, não poderão
dizer que se converteram. Eu rezo por vocês e intercedo junto de Deus para que
venha a paz, primeiro aos seus corações e, depois, também ao redor de vocês.
Que Deus seja a paz de vocês” –
MENSAGEM DO DIA 25.06.92
A
IGREJA CELEBRA HOJE , SANTO ANSELMO - Bispo e Doutor da
Igreja. É dele a frase: “Não quero compreender para crer, mas crer para
compreender, pois bem sei que sem a fé eu não compreenderia nada de nada.” O
santo de hoje é chamado de teólogo-filósofo. Nasceu em Piamonte no ano de 1033.
Seu pai era Conde e devido ao mau relacionamento com ele, saiu de casa, apenas
com um burrinho e um servo. Foi em busca da ciência, mas também se entregando
aos prazeres. Era cristão, mas não de vivência. Devido aos estudos, ‘bateu’ no
Mosteiro de Bec e conheceu Lanfranc, um religioso e mestre beneditino. Através
dessa amizade edificante, descobriu um tesouro maior: Jesus Cristo. Nesse
processo de conversão, abriu-se ao chamado à vida religiosa e entrou para a
família beneditina. Seu mestre amigo foi escolhido para ser bispo em Cantuária
e Anselmo ocupou o lugar do Mestre, chegando a ser também Superior. Um homem
sábio, humilde, um formador para as autoridades, um pai. Um verdadeiro Abade. Por
obediência à Mãe Igreja, foi substituir seu amigo, que havia falecido, no Arcebispado
de Cantuária. Viveu grandes desafios lá, retornando a Piamonte, onde faleceu,
com esta fama de santidade e testemunho de fidelidade e amor à Cristo e à
verdade - Santo Anselmo, rogai por nós!
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