Nós adoramos a Deus e a tudo o que é de Deus!
Todo evangélico, ao deparar-se com frase como esta, responderá, prontamente: "isso é uma idolatria!"
Eles dirão isso porque desconsideram os vários sentidos que estão compreendidos na palavra "adorar".
Para o Católico Romano esta frase não é Panteísta, pois, de acordo com a erudição gramatical, distingue nela dois sentidos para a palavra "adorar", ou seja, o sentido latrêutico e o dulíaco.
O sentido latrêutico ou de latria, significa adoração e é aplicado tão somente a Deus.
O sentido dulíaco ou de dulia, significa estimação, gostar muito, e é aplicado aos homens de bem em geral e às coisas santas.
A Sagrada Escritura (que é uma das coisas santas) emprega o verbo adorar nos dois sentidos aqui expostos.
Assim, por exemplo, usa o sentido de dulia no Salmo que diz: "Tenho muito estima por vossos amigos, ó Senhor!"(Salmos). E ainda: "A memória do justo é eterna."(Salmos).
Estes dois versos dos Salmos são de caráter dulíaco-laudatório. É neste sentido que os Católicos prestam um culto de veneração aos Santos, àqueles que cremos "amigos de Deus".
São Paulo Apóstolo, na sua Segunda Carta aos Tessalonicenses, emprega o verbo adorar nos dois sentidos, e em uma só frase. Vejamos:
"... Ninguém de modo algum vos engane, porque (isto não será) sem que antes venha a apostasia e sem que tenha aparecido o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se oporá (a Deus) e se elevará sobre tudo o que se chama Deus, ou que é adorado..."(IITes.2,3-4).
Aqui o Apóstolo diz que o Anticristo se oporá a Deus, contra tudo aquilo que se chama Deus, e contra tudo aquilo que é adorado.
Note-se o seguinte:
O Anticristo será contra tudo aquilo que é adorado.
Essa frase não pode ser entendida tão somente no sentido latrêutico, porque senão o Apóstolo cairia na idolatria e no panteísmo, ao admitir adoração à outras coisas além de Deus.
Quais outras coisas se chamam Deus? Quais outras coisas são adoradas?
É claro que São Paulo não fala aqui no sentido latrêutico, mas no sentido dulíaco da palavra adorar.
Quem não admite, nestes versos paulinos, os dois sentidos do verbo adorar, porá o Apóstolo em contradição.
Portanto, quando o Apóstolo diz que o Anticristo se oporá a Deus, está falando no sentido latrêutico; e quando diz que ele se oporá às outras coisas que se chamam Deus ou que são adoradas, está falando no sentido dulíaco da palavra adorar.
Assim sendo, os versos em questão, devem ser entendidos mais ou menos assim:
- O Anticristo opor-se-á a Deus, e contra tudo aquilo que se chama Cristão, e contra tudo aquilo que é estimado (venerado) na Igreja de Deus.
Assim sendo, podemos dividir a frase titular deste trabalho em dois versos, ou seja:
- Nos adoramos a Deus. (Aqui fala-se no sentido latrêutico, ou de latria).
- Nós adoramos a tudo o que é de Deus. (Aqui fala-se no sentido dulíaco, significando que nós amamos a tudo o que é de Deus).
A não distinção dos vários sentidos que possuem as palavras conduzirá, fatalmente, o leitor das Sagradas Escrituras a erros gravíssimos, que o afastarão do bom e reto caminho da verdade.
Na Sagrada Escritura a serpente significa o Diabo, mas também simboliza o Cristo.
Da mesma forma o leão que simboliza o Diabo, também simboliza o Cristo.
As imagens que são proibidas por Deus em Êxodo 20, são permitidas e ordenadas pelo mesmo Deus em: Êxodo 25,18;Números 28; colocadas dos dois lados do propiciatório, no Tabernáculo: Êxodo 37,7; e no Templo do Rei Salomão: 2 Crônicas 3,10-11; 1 Reis 6,23; 32,35; e isto por um mandamento Divino: 1 Crônicas 28,18.
O mesmo Deus que disse "não matarás", também disse que "todo o que pecar, seja punido de morte".
O mesmo Deus que disse "não julgueis, para não serdes julgados", também disse "guardai-vos dos falsos profetas", "não vos deixeis enganar".
Quem não admite a distinção dos vários sentidos das palavras, reprovará o uso das imagens no templo, ao ler Êxodo 20; será contra a pena de morte ao ler o quinto mandamento; e será contra o juízo especulativo ou teológico ao ler Mateus 7.
No que diz respeito às imagens, os Exegetas Católicos distinguem dois sentidos para o verbo "proibir" de Êxodo 20.
Ora, o mesmo Deus que proibiu fazer imagens, também mandou fazer imagens.
Como, pois, conciliar Êxodo 20 com Êxodo 25, pois são textos de aparência contraditória?
Para não colocar Deus em contradição, os Exegetas Católicos distinguiram dois sentidos para a proibição das imagens.
Existe uma proibição absoluta e outra relativa.
Deus disse: "Não farás imagem de escultura do que há lá em cima no céu, nem do que há sobre a terra, nem do que há sob as águas."
Mas, o mesmo Deus que proibiu fazer imagens de tudo o que há lá em cima no céu, mandou Moisés fazer dois Querubins de ouro batido, e Querubim é um ser de lá de cima, de lá do céu!
O mesmo Deus que proibiu fazer imagens de tudo o que há sobre a terra, mandou Moisés fazer uma serpente de bronze, e mandou o Rei Salomão encher o Templo de imagens de bois, leões, etc.! Ora, serpente, bois e leões são seres que andam sobre a terra. Como, pois, conciliar estes textos contraditórios da Bíblia?
Deus não é, nem pode ser contraditório. Portanto, a proibição de fazer imagens não é absoluta, mas relativa.
Deus proíbe a idolatria.
Deus proíbe as imagens dos falsos deuses dos egípcios, dos babilônicos, dos amonitas, etc.
A Bíblia trás o nome de alguns desses deuses, tais como: Astarte, Lilith, Moloc, Baal, o boi Ápis e implicitamente vários outros deuses do paganismo.
A Bíblia é bem clara: Deus proíbe a adoração das imagens ímpias, mas não proíbe o uso das imagens piedosas ou sagradas.
A própria Arca da Aliança era uma Imagem Sagrada de Deus, tão Sagrada que só os Sacerdotes podiam tocar nela, de tal modo que se uma pessoa qualquer tocasse nela, imediatamente morreria, como foi o caso daqueles milhares de israelitas que morreram ao tocarem na Arca, e isto para socorrê-la de uma queda!
Os Católicos adoram não a imagem de Cristo, mas o Cristo da imagem; estimam e honram não a imagem do Santo, mas o Santo da imagem.
Quando você entra dentro de uma Igreja, e vê uma imagem de Jesus Cristo, você está diante não de um ídolo, mas diante de um Evangelho esculpido em gesso, mármore ou madeira.
Nós homenageamos os Santos de Deus, porque é um costume de antiquíssima tradição religiosa que remonta mesmo antes de Nosso Senhor Jesus Cristo, além do que, se alguém não aceita a tradição oral dos antigos e dos Apóstolos, que também é inspirada por Deus, deve ao menos aceitar o que está Escrito nos Salmos.
Veja-se: "A memória do justo é eterna."(Salmos).
Ora, a palavra "memória" significa, entre outras coisas, celebrar, homenagear, ou comemoração honorífica.
Celebra-se a "memória" de um justo ao narrar os grandes feitos que ele tenha realizado.
A Bíblia mesmo narra grandes acontecimentos realizados de forma extraordinária pelos heróis da fé, tais como o sacrifício de Abraão; Moisés e a passagem do Mar Vermelho; a extrema força e valentia de Sansão; a vitória de Davi contra Golias; a vitória do Profeta Elias contra os Sacerdotes de Baal, etc., e isso sem falar do Novo Testamento.
Portanto, a celebração ou comemoração da vida dos Santos (justos) foi e ainda é, desde suas origens, inspirada por Deus.
Além do que, quem honra os Santos, honra a Deus que está neles, segundo o que está escrito: "Deus é admirável nos seus Santos!"(Salmos).
Se Deus não quisesse que honrássemos os homens de bem (justos), não ordenaria honrar pai e mãe, que são homens.
Pelo Quarto Mandamento da Lei de Deus, os filhos de Moisés, Abraão, Isaac e Jacó, estavam obrigados a prestar a devida honra para com seus pais.
Não seria de bom juízo, nem de acordo com a Lei de Deus, se eu desprezasse os elogios e as narrativas dos grandes feitos que os filhos deles me fizessem.
Os filhos de Abraão, de Isaac e de Jacó, elogiavam, diante da assembléia dos fiéis, a fé de seus pais.
E ninguém jamais disse que tal louvor era idolatria!
Nós honramos e glorificamos a Virgem Mãe de Deus, porque Ela foi glorificada pelo próprio Deus Pai, por Deus Filho e pelo Deus Espírito Santo, além do que sua "memória" remonta desde a Encarnação do Verbo.
Mas, se queres uma prova Bíblica, veja-se então:
"Eis que desde agora me chamarão bem-aventurada todas as gerações, porque fez em mim grandes coisas o Poderoso, e santo é o seu nome."(Lc.1,48-49).
A Igreja Católica é a única Igreja que chama a Virgem Maria de bem-aventurada.
A Encarnação do Verbo, sua Imaculada conceição, sua virgindade perpétua, sua gloriosa Assunção aos céus, foram uma das grandes coisas que Deus realizou em Maria.
Vejam como a Santíssima Virgem Maria celebra os grandes feitos de Deus, ao narrar o que Ele fez n'Ela!
Ela disse que todas as gerações celebrariam sua "memória" por causa das grandes coisas que Deus fez n'Ela!
Conseguiram ver bem? É por causa de Deus que nós celebramos a sua memória. Deus é a causa da memória que celebramos em honra d'Ela!
Deus é causa eficiente, causa instituidora, e causa inspiradora do culto hiperdulíaco que nós, Católicos, de geração em geração prestamos a Ela.
Portanto, a Deus somente, e a tudo o que é de Deus, honra e glória, agora e para sempre. Amém.
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