terça-feira, 16 de outubro de 2012

MEDITAÇÃO COM O LIVRO IMITAÇÃO DE CRISTO: Contra os vãos juízos dos homens




Capítulo XXXVI
Livro terceiro

1. CRISTO: Filho, põe o teu coração firmemente, no Senhor e não temas o juízo dos homens, quando a tua consciência der testemunho da tua piedade e inocência.

É bom e ditoso sofrer assim e nem isso é duro para o coração humilde que mais confia em Deus do que em si mesmo.

Muitos falam demais e, por isso mesmo, pouco crédito merecem.

Contentar, porém, a todos não é possível.

Ainda que são Paulo se empenhasse em agradar a todos no Senhor, fazendo-se tudo para todos, todavia fez pouco caso de ser julgado no tribunal dos homens.

2. Fez tudo o que estava em si e podia, pela edificação e salvação dos outros; mas não pôde evitar ser, às vezes, julgado e desprezado pelos demais.

Por isso entregou tudo a Deus, que tudo conhecia; pela paciência e pela humildade se defendeu contra os maldizentes, os que inventam coisas vãs e mentirosas e os que falam como lhes sugere a paixão.

Contudo, respondeu algumas vezes, para que seu silêncio não escandalizasse aos mais fracos.

3. Quem és tu, que temes um homem mortal? Hoje existe e amanhã não aparece.

Temes a Deus e não temerás as ameaças dos homens.

que mal te pode fazer alguém com palavras ou injúrias? Mais se prejudica a si mesmo, que a ti; e, quem quer que seja, não poderá escapar ao Juízo de Deus.

Põe os teus olhos em Deus e deixa-te de contendas e queixas.

E se, presentemente, te parece que sucumbes, porque sofres humilhações que não mereceste, não te revoltes por isso e nem diminuas tua coroa pela impaciência.

Ergue antes teus olhos ao céu, para Mim, que poderoso Sou para te livrar de toda confusão e injúria e dar a cada um conforme as suas obras.



Reflexões

Por que te inquietas com os juízos dos homens e que te importam seus vãos pensamentos? Eles veem quando muito o exterior  seus olhos não penetram no fundo da alma, onde estão escondidos o bem e o mal. Não te aflijas pois se eles te condenarem, nem te ensoberbeças se te louvarem. Prostra-te porém diante de Deus e dize-lhe: "Se perscrutares, Senhor, nossas iniquidades quem poderá estar em vossa presença?" (SL 129,3)

Alguns exageram a importância do que eles chamam reputação, e no excessivo calor com que a defendem, há muitas vezes mais amor-próprio que zelo verdadeiro. Jesus Cristo, carregado de ultrajes, deu-nos outro exemplo: "calou-se e não abriu a boca" (SL38,10)

Todos os santos foram como ele perseguidos e caluniados. Quando tivermos feito o que de nós dependia para não escandalizar a nossos irmãos, nossa consciência estará sossegada; nada mais nos resta senão ficar em paz na humilhação. Deus sabe tudo, isto basta. "Pouco se me dá, escrevia são Paulo aos Coríntios, pouco se me dá ser julgado por vós, ou por algum tribunal humano; eu não me julgo à mim mesmo; quem me julga é o senhor. Não julgueis pois antes do tempo, até que o Senhor venha: ele porá patente o que está oculto nas trevas, manifestará os segredos dos corações e então cada um receberá de Deus o louvor que merece" (1Cor4, 3-5)

Para vos contentar, Deus de minha alma, não tenho trabalho, porque sois bom de contentar e com vossa bondade vos acomodais ao que posso e ao que sei. No que se refere à minha salvação tendes-me descoberto vossa vontade para que não a erre; e nas coisas que não são desta importância, em que não tenho necessidade de ter certeza do que nela quereis, aceitai a boa intenção e o desejo, ainda que seja diferente do que vós quereis nestas coisas.

Sofreis quando me vedes errar, e ajudais-me para me levantar, e nunca diante de vós sou tão mau que vosso piedoso Juízo não ache razão para me favorecer, para que o não seja. Convosco, meu Deus, sempre estou bem. Mas, os homens, curtos no entendimento, afeiçoados no juízo, diferentíssimos nas inclinações e pareceres, como me é possível contentá-los?

Aprovam e desaprovam sem consideração; um quer que sofra, quando outro quer que me vingue. Um me tem por humilde, quando outro me tem por hipócrita: tudo é deste modo sem fundamento. E quando me fora possível contentá-los a todos, que ganharia com isso? Que proveito tiraria para minha salvação?

Concedei-me, Senhor, a graça de poder levar com paciência as fraquezas do meu próximo.


Referência: KEMPIS, Thomas. Imitação de Cristo.São Paulo (22º edição);Paulus, 1976.



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