Queridos irmãos, queridas irmãs, a paz! Vamos hoje conhecer um pouco mais da cândida alma de Jacinta Marta, priminha da Ir. Lúcia de Fátima e vidente de Nossa Senhora.
Conta Ir. Lúcia, em suas memórias escritas por ordem do bispo, que sua mãe não lhe poupava nem mesmo o cabo da vassoura, na tentativa de fazê-la confessar que havia mentido e que nunca tinha visto Nossa Senhora. A boa senhora, por seu grande temor e amor a Deus, receava que a filha e seus primos estivessem enganando aquela boa gente. Passemos a palavra à Ir. Lúcia:
(Minha mãe) não conseguindo obter (de mim) outra resposta que um mudo silêncio ou a confirmação do que já tinha dito, mandou-me abrir o rebanho, dizendo que pensasse bem, durante o dia; que, se nunca tinha consentido uma mentira nos seus filhos, muito menos consentia agora uma daquela espécie; que, à noite, me obrigaria a ir junto daquelas pessoas a quem tinha enganado, confessar que tinha mentido e pedir perdão.
Lá fui com as minhas ovelhinhas; e nesse dia já os meus companheiros (seus primos, Francisco e Jacinta – pastorinhos de Fátima) me esperavam. Ao verem-me a chorar, correram a perguntar-me a causa. Contei-lhes o que se tinha passado e acrescentei:
– Agora, digam-me como vou fazer?! Minha mãe quer, a todo o custo, que diga que menti; e como vou a dizê-lo?
Então o Francisco diz para a Jacinta:
– Vês? Tu é que tens a culpa! Para que o foste a dizer?
A pobre criança, chorando, põe-se de joelhos, com as mãos postas, a pedir-nos perdão:
– Fiz mal – dizia, chorando – mas eu nunca mais digo nada a ninguém!
Agora, perguntará V. Excia: Quem lhe ensinou a fazer esse acto de humildade?!
– Não sei. Talvez por ver seus irmãozinhos pedir perdão a seus pais, na véspera de comungar; ou porque a Jacinta foi, segundo me parece, aquela a quem a Santíssima Virgem comunicou maior abundância de graça, conhecimento de Deus e da virtude.
Quando, algum tempo depois, o Senhor Prior nos mandou chamar, para nos interrogar, a Jacinta baixou a cabeça e a custo sua Revcia conseguiu obter dela apenas duas ou três palavras. Quando viemos embora, perguntei-lhe:
– Por que não querias responder ao Senhor Prior?
– Porque prometi não dizer mais nada a ninguém!
Um dia perguntou:
Por que não podemos dizer que aquela Senhora nos disse para fazermos sacrifícios pelos pecadores?
– Para que não nos perguntem que sacrifícios fazemos.
Minha mãe afligia-se cada vez mais com o progresso dos acontecimentos. Empregou, por isso, mais um esforço para me obrigar a confessar que tinha mentido. Um dia, pela manhã, chama-me e diz que me vai levar a casa do Senhor Prior:
– Quando lá chegares, pões-te de joelhos, dizes-lhe que mentiste e pedes-lhe perdão.
Ao passar por casa de minha tia, minha mãe entrou uns minutos. Aproveitei a ocasião para contar à Jacinta o que se passava. Ao ver-me aflita, deixou cair algumas lágrimas e disse-me:
– Vou-me já levantar e vou chamar o Francisco. Vamos para o teu poço rezar. Quando voltares, vais lá ter.
À volta, corri ao poço e lá estavam os dois, de joelhos, a rezar. Logo que me viram, a Jacinta correu a abraçar-me e a perguntar como tinha feito. Contei-lhes. Depois, disse-me:
– Vês?! Não devemos ter medo de nada! Aquela Senhora ajuda-nos sempre. É tão nossa amiga!
Desde que Nossa Senhora nos ensinou a oferecer a Jesus os nossos sacrifícios, sempre que combinávamos fazer algum ou que tínhamos alguma prova a sofrer, a Jacinta perguntava:
– Já disseste a Jesus que é por Seu amor?
Se lhe dizia que não...
– Então digo-Lho eu.
E punha as mãozinhas, levantava os olhos ao Céu e dizia:
– Ó Jesus, é por Vosso amor e pela conversão dos pecadores.
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