domingo, 23 de outubro de 2011

Madres do Deserto – Madre Teodora – Parte I



Iniciamos a vida de outra madre do deserto, esta que será dividida em duas partes...

Madre Teodora, a oração humilde
Encontramo-nos diante de uma madre culta e com grandes conhecimentos teológicos. Viveu nos fins do século IV ou princípios do século V, também no território de Alexandria. Nela, como nas demais madres que já expus, destaca a grande penetração psicológica, sua delicadeza e prudência.
Nos chama a atenção que nos apoftegmas das Madres, no centro ocupa Deus, Jesus Cristo, a vida sobrenatural extraída das Escrituras, enquanto que os apoftegmas dos Padres põem em relevo a ascese: austeridade, renúncia, penitência, etc.
As Madres, talvez, por este sexto sentido feminino, intuíram que a mística do Deserto, com toda sua grandeza, na medida em que se isola de sua mesma razão de ser que deu vida, pode cair no perigo de sucumbir para uma evasão perigosa. Por que Deus não nos chamou a viver no deserto, senão a atravessar o deserto para chegar à Terra Prometida. O deserto de todo cristão, é CRISTO, é Nele que devemos habitar. Assim, o deserto físico tem sentido. E isto o intuíram as Madres. Po que existe uma aspiração fundamental na Espiritualidade do Deserto: chegar ao Reino dos Céus – ao Paraíso – por meio da pureza do coração.
As puritas cordi, significava realmente a espiritualidade do Deserto, mais que perfeição moral ou ascética, no fim de um longo processo de transformação espiritual na alma, perfeito depois de uma longa jornada, em caridade; desprendida de todas as coisas criadas, livres das paixões desordenadas, apta para viver absorta em Deus e ser penetrada de vez em quando por intuições místicas. A pessoa pura de coração não somente conhece Deus como Criador, mas como Pai das Misericórdias, dispensador de todo bem; Deus, para o verdadeiro solitário, é Pai-Mãe.
O abade Isaac o entendeu assim ao dizer a João Cassiano:
“É necessário que no deserto pratiquemos nossos exercícios, jejuns, vigílias, orações, em ordem para este fim: a pureza de coração. Porém não é conveniente que nos perturbemos se esta suprema virtude por causa de nossos exercícios. Na verdade, se a pureza de coração se mantém íntegra e intacta em nossas almas, nada se perderá, mesmo que por necessidades tenhamos que passar algumas coisas secundárias.”
Assim, Madre Teodora, encarnando nela o Evangelho, o ruminava incessantemente e compreende que a vida espiritual não é fácil. Por isso exorta à prática da humildade e da caridade, estas atrairão todas as demais virtudes e farão que na alma se expanda a luz da graça. Desta forma, unificará o espírito, e Deus mesmo, habitando na alma, difundirá nela todas suas riquezas.
Seguimos com sua vida: “esta virgem solitária (Teodora), não foi menos famosa que Madre Sara (que vimos na semana passada). Habitava no território de Alexandria. Se fala dela com distinção nas Sentenças dos Padres. Madre Teodora dizia que “tem que esforçar-se para entrar pela porta estreita, como Jesus Cristo nos recomenda, pois se as árvores não sofrem no inverno as chuvas e os ventos gelados, não podem dar fruto quando chega o bom tempo, o mesmo ocorre conosco. O mundo é como um inverno para nós, sofremos muito suas inclemências pelas tribulações e tentações, porém não devemos deixar-nos vencer pelo desânimo e vigiemos, até alcançar a herança celestial.”
Disse também: “É uma vantagem não gozar de uma vida mole, tranquila, isto é principalmente conveniente às virgens e mongens e especialmente quando são jovens e principiantes, pois tem que de praticar a ascese e o recolhimento dos sentidos.
Não temos de desejar-nos corromper pelo descanso, abaixo o pretexto de adquirir a tranquilidade de espírito para nossos corpos, porque trás graves incovenientes tanto para um como para o outro; e ainda o demônio se apressa por fazer pesada a alma mantendo-a solta e preguiçosa, pusilânime, aproveitando-se de nosso estado, nso assedia com maus pensamentos”.
“Também temos de vigiar quando o inimigo nso fere e caímos enfermas, pois nossos corpos, pelas grandes enfermidades se contraem e nos invade uma espécie de torpor e entorpecimento, em todos os membros, de sorte que é funesto para o corpo e tira toda a força do espírito e do corpo; então ao experimentar tal frouxidão, aproveitamos para pedir dispensa de nossas obrigações, com o pretexto de sentir-se muito enferma; assim que se nos fazemos violência e sacudimos esta maligna preguiça, caímos pouco a pouco em uma grande prostação. Se velamos sobre nós mesmas, poderemos livrar-nos destes males do corpo e da alma.”
Recordou-se também que havia um monge que cada vez que tinha que recitar o Ofício, sentia-se preso da febre e de uma grande dor na cabeça. Tudo era artifício do diabo que não queria que ele rezasse; porém o bom monge reconheceu a astúcia deste mau espírito e disse a si mesmo: Posto que me sinto tão enfermo que creio que vou morrer, me levantarei e direi todas as minhas orações antes que eu morra! Assim se fez violência. Porém apenas havia terminado suas orções, a febre e a dor de cabeça desapareceram-se. Então perseverou durante muito tempo nesta prática e a tentação desapareceu por completo.
Outra vez disse Madre Teodora que um homem de bem havia recebido injúrias por parte de um homem sem escrúpulos, e aquele lhe respondeu com sua bondade acostumada: “Eu poderia injuriar-te da mesma forma, porém devo ter consideração à Lei de Deus, assim, que Ele me cerre a boca.”


Continuamos na próxima semana...
Fiquem na paz!
Madre Rosa Maria de Lima, F.M.D.J

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