domingo, 8 de maio de 2011

Vocação e Família – IV

A atenção à vocação dos filhos é um dos melhores antídotos (ou talvez o melhor) contra a corrupção de seus costumes, pois a atenção amorosa à criança ajuda-a a desenvolver com mais facilidade os princípios de uma sã moralidade. Desenvolvendo-os, ela rejeitará, como que por instinto, associar-se ou seguir sugestões de pessoas capazes de corrompe-la.

Isto é assim por cada pessoa, quando criança, somente presta atenção espontaneamente no que lhe interessa por natureza. É somente depois de certa idade que a criança começa a prestar atenção coisas que por natureza não a interessariam, o que faz com que crianças provenientes de lares desestruturados pareçam mais inteligentes do que as de lares estruturados. Porque estas recebem dos pais atenção amorosa e não precisam prestar atenção em coisas que são alheias a suas vocações e, por isso, são mais conformes com o que tem a ver com o coração. Aquelas, de lares desestruturados, prestam atenção em coisas que falam ao coração, não como seu alimento natural, mas como instrumentos úteis para a execução de tarefas vazias que impressionam ou perturbam terceiros.

A afetividade, juntamente com a vontade e a razão, compõe a vocação. Ela é a sede da base moral do homem, cujo papel é definir a direção a ser seguida pela vontade para ela se submeter à razão. A Ética é “a ciência dos costumes”, o saber que o homem necessita para regrar suas paixões e ações. Mas a moral é mais exigente do que esta moral, pois a ciência é boa para as coisas que o entendimento assimila, e ela, a moral, inclui também e em primeiro lugar a intencionalidade do homem. Se a Ética estatui que “não se deve fazer aos outros o que não quer que lhe façam”, a moral acrescenta a exigência de “amar não fazer aos outros o que não quer que lhe façam.”

A afetividade do homem, como está implícito neste nome “afetividade”, tem de ser conduzida, orientada, uma vez que sob o aspecto da afetividade, o homem não é senhor, mais servo; ele não manda, mas obedece. E é esta a parte da alma que predomina na criança, e é por ela que aprende os princípios da moral. Como acima, a Ética ensina que “não devo fazer aos outros aquilo que não quero que me façam”; a moral acrescenta o amor: “devo amar não fazer aos outros aquilo que não quero que me façam”. Portanto, a moral é mais exigente do que a ética, pela razão de que esta é para quando a pessoa sai de casa, quando ela passa a ter uma função social – arranja emprego, torna-se estudante de classes adultas, etc. Dentro de casa não sou ético ou antiético – sou pessoa moral ou imoral!

Pelo fato de a moral exigir da pessoa mais do que a ética – pois não basta (como basta para a ética) não mentir, mas deve-se amar dizer a verdade – então é na família que se burila de maneira fundamental o diamante bruto que cada criança é. Fora de casa, no máximo poderá ser dada uma polida neste mesmo diamante. Mas a sua forma, o seu burilo, isto é coisa para a casa, para a família.

A melhor, mais perfeita e segura maneira de burilar o diamante que a criança é, é ajudando-a a fazer escolhas que respeitem ao que nela é vocacional. Porque aí a força do auxílio é dobrada: há a primeira força, natural, espontânea, que é a atração da criança pelos objetos conformes com sua vocação; a segunda força é a aprovação dos pais, a “benção” dos pais sobre suas escolhas. A combinação dessas duas “forças” são a melhor base para ela habituar-se a fazer boas escolhas, isto é, para tornar-se uma pessoa verdadeiramente moral, a qual não encontra a menor dificuldade em ser ética (isto é, pessoa dotada do hábito de agir com verdadeira justiça para com o próximo) tão logo saia de casa e passe a ter alguma função social.

Joel, em 07 de maio de 2011.

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