ESTEJAIS PRONTOS A DAR RAZÕES DA VOSSA ESPERANÇA EM CRISTO JESUS (1Pd 3, 15)
O Santo Padre, o Papa Bento XVI tem, constantemente, nos chamado a praticarmos a verdade, a cooperarmos com ela. Este é o seu lema episcopal: Cooperadores da Verdade. Para o cristianismo, Cristo é a Verdade! Nada mais óbvio, portanto de cooperarmos com Cristo. Santo Agostinho, chegava mesmo, sem temor, a dizer que o Cristianismo, porque busca a Verdade, é a verdadeira Filosofia. Isto porque esta também busca a verdade sem a luz da Revelação. Nos nossos tempos em que muitos desconfiam da razão ou a transformam numa “geléia informe”, afirmando que não seja possível encontrar a verdade ou que existem tantas verdades quantas são as cabeças, ditas “pensantes”, é necessário que os cristãos retomem como luta o exercício do raciocinar para dar respostas a quem nos pedirem acerca de Deus e da sua Revelação sem nenhum temor de receber desqualificativos de fundamentalistas. A fé sem razão não é fé e gera violência e guerra; a razão sem a fé, também gera a mesma violência, bastando considerar as guerras e suas razões de estado de segurança nacional, bem como a revolução francesa, as duas grandes guerras e as “pequenas” guerras, fruto de um pensamento ausente de fé que nós mesmo empreendemos ao longo da nossa vida.
A convite do Pe. Mateus Maria, apresento um pequeno texto sobre a mais do que nunca atual Encíclica do Papa João Paulo II, Servo de Deus e 01 de Maio, Domingo da Misericórdia, Beato.
Apesar da aridez do texto, convido os leitores a uma séria reflexão sobre a sua vida de fé com algumas perguntas: Você vive, como o justo, da fé? Raciocina com pessoa de fé? Reza como pessoa racional? O seu diálogo com Deus é razoável? O seu testemunho cristão é baseado em argumentos capazes de convencer, a você e aos que você encontra?
Leia atentamente o texto e reflita. E, depois, decida-se!
Com a minha bênção sacerdotal.
Pe. Samuel Pereira Viana.
A relação entre a Filosofia e a Teologia, ou sobre a razão humana e a ciência acerca das coisas referentes a Deus, na Encíclica Fides set Ratio (A razão e a fé) tem como objetivo o restabelecimento do diálogo entre estas duas instâncias do saber humana enquanto coloca, desde o início, o primado da Revelação como chave de interpretação
Este objetivo da Encíclica Fides et Ratio não è sem razão. Após analisar as etapas históricas desta relação é possível constatar sua impostação profética . Sobretudo em nossa época que recebeu em herança as consequências da separação entre estas duas instâncias de conhecimento. De um lado, temos a tentação do racionalismo [postura que eleva a razão à categoria de única forma de interpretação e de conhecimento da realidade, quase como que alçando-a à uma categoria divina a ser adorada e seguida cegamente, o que è contraditório!] e fideísmo (a mesma postura cega só que considerando a fé como único critério, o que também è contraditório, posto que, como já alertava Sto. Agostinho, uma fé que não se interroga, não è fé, e, de outro lado o ecletismo em Teologia, levando ao seu interior graves consequências no conteúdo do dogma. Não se deve esquecer também a postura nihilista e fraco que, fundados na convicção de que não è possível ao homem chegar à certeza sobre o sentido do existir e de outras questões fundamentais para o ser humano, sobretudo o que diz respeito à vida e à morte. Ou seja, a separação, a não relação entre a fé e a razão traz consigo a incapacidade de uma resposta às questões de sempre, das quais ninguém pode fugir: de onde venho? Para onde vou?
Se queremos dar conta do lugar onde é Possível chegar com esta perspectiva, é necessário afirmar o nulla, o nada; o absurdum, o absurdo, já que a razão de per se não pode ir além de si mesma sem o auxílio da Revelação que lhe é doada e que contem provocações ao pensamento humano , sobretudo em relação às questões últimas que nos são postas pela Encarnação do Filho de Deus.
A Encíclica Fides et Ratio, possui um caráter de profecia enquanto provoca a reflexão sobre este tema propondo levar a sério a não contraditoriedade dos dois saberes que tem o mesmo objetivo, que é o da busca da verdade. Assim, Filosofia e Teologia são ciências partners, isto é, parceiras no mesmo objetivo tendo a sua relação como condição de possibilidade o primado da Revelação .
Mas qual Filosofia? Aqui se deve esclarecer a novidade, em relação à Encíclica Aeterni Patris do Papa Leão XIII. Não uma escola ou um sistema filosófico, mas, antes de tudo, o mesmo filosofar que é inerente ao pensamento humano e antes de todo pensamento chamado filosófico. Ou seja, um retorno à Filosofia do ser, a Metafísica .
Mais do que nunca continua atual o axioma de Santo Anselmo “fides quaerens intellectum (a fé que busca a sua razoabilidade ou que busca se compreender interrogando-se) em definir que coisa seja a Teologia. Entretanto, devemos ler “fides” no sentido do acolhimento do dado revelado, portanto, um assentimento, um dizer sim antes de passar além, ao “quaerens intellectum”, que deve ser um interrogar no interior da fides, para que o estatuto de interpretação da Teologia seja respeitado .
Estas últimas afirmações não querem colocar debaixo do tapete o caráter de serva da filosofia que, na atual reflexão não existe mais, nem também submeter a Teologia como mendiga da Filosofia já que, no interior da Revelação possui os seus conteúdos de verdade e uma estrutura de conhecimento, posto que é Revelação e assim pressupões uma comunicabilidade, mesmo sendo ainda em termos de universalidade filosófica .
Apesar do que foi dito acima, a possibilidade de dizer não a este convite ao dialogo, já aconteceu em muitas fases da história gerando muitas conseqüências. A soberba filosófica , fruto do pecado, cria um esquecimento e depois um pensamento oblíquo , incapaz, com as próprias forças, de receber a Verdade que a Revelação traz consigo com um dom. Aqui tem um papel fundamental a Encarnação do Verbo de Deus. Assim, o eterno preenche o tempo, o todo se manifesta no categorial, no parcial – O Verbo Encarnado em Jesus de Nazaré, possui uma universalidade válida para todos e sempre, em todos os lugares .
Esta historicidade de Jesus de Nazaré se impõe à Filosofia exigindo raciocínio e possibilidade de se exprimir em termos racionais, comunicável à mesma razão para que possa ir além de si mesmo. Em nossos dias, tarefa vital para o anúncio do Evangelho nas diversas culturas.
O caráter de circularidade é a chave que a Encíclica Fides ET Ratio apresenta como portadora, condição de possibilidade, de mútuo respeito acerca dos estatutos de conhecimento das duas ciências .
Esta circularidade é entendida como um profundo respeito ao Deus que se Revela e ao dado revelado, bem como ao seu destinatário que é chamado a um dialogo com o doador da Revelação. E como aquele que conhece quer melhor conhecer aquilo que lhe é doado, entra em ação o seu raciocinar, já que não se pode conhecer sem compreender; nem também compreender sem receber um objeto que seja passível de conhecimento. Aqui a grande importância da objetividade histórica da Revelação.
A historicidade de Jesus de Nazaré se impões à Filosofia exigindo raciocínio e possibilidade de exprimir-se universalmente.
Deste modo, a Encíclica Fides et Ratio, se coloca na vanguarda de um tema que a Igreja deve afrontar, hoje e no futuro, sempre mais, para que os fundamentos surjam e esclareçam os fenômenos, sem submeter a Filosofia, mas fazendo dela uma parceira e um momento interno constitutivo de si mesma . Somente assim, a Igreja será sempre capaz de poder fornecer as razões da sua esperança (1Pd 3, 15).
1 Tutto il primo capitolo della Enciclica Fides et Ratio)
2 Rino Fisichella, Introd. e guida alla lettura di Fides et Ratio, ed. Piemme, 1998, p.21-24; id., “Oportet philosophari in Theologia”, in: Gregorianum, 76,3, 1995, p.520-533.
3 Fides et Ratio, cap. IV.
4 Fides et Ratio, 48 e tutto il cap. V. e VII.
5 Fides et Ratio, 01;49-56; 86-91.
6 Ivi, n. 91, especialmente o último paragrafo.
7 Ivi, 77.
8 R. Fisichella, “Oportet philosofari in theologia”, in: Gregorianum,75, 4, 1995, p.716: “Un orizzonte come quello descritto dovrebbe comportare il necessario recupero dell’instanza metafisica che più di ogni altra componente avvicina il sapere filosofico a quello teologico” [Um horizonte como aquele descrito deveria comportar a recuperação da instância metafísica que mais do que qualquer outra aproxima o saber filosófico daquele teológico]; Fides et Ratio, n°. , 4, 83: “... è necessária uma Filosofia de característica autenticamente metafísica, capaz de tran scender os dados empíricos para atingir, na sua busca da verdade, a algo absoluto, de definitivo, fundante” (tradução do autor); n°. 57, 60, 97, 105.
9 Fides et Ratio, 42; R. Fisichela, art. Cit., Gregorianum, 76,2, 1995,p. 242.
10 Fides et Ratio, 08: Deus tem sempre a iniziativa em falara ao Homem e Revelar-Se; id., 14, onde Santo Anselmo è citado; 42-44, 77-78, 93, 96; R. Fisichella, art.cit., Gregorianum 76, 3, 1995, p.520-533: onde se encontra desenvolvido o tema da Revelação com principium para a relação entre a Filosofia e a Teologia ).
11 Fides et Ratio, 45-47.
12 Fides et Ratio, 50, 51; R. Fisichella, art. Cit., Gregorianum,75,4, 1995, p. 706-707; ivi, 715 ...“la filosofia di per sé non crea nulla” [“a filosofia, por si só, não cria nada”].
13 Fides et Ratio, 93; cfr. Nota 10.
15 Fides et Ratio, 73; R. Fisichella, art. Cit., Gregorianum, 75, 4, 1995, 715 e ss.
15 Rino Fisichella, art. Cit., Gregorianum, 75,4, 1995, p. 721.
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