Estava no interior da igreja quando ouvi uma enorme explosão", disse o padre Mena Adel, adiantando: "Corpos estavam em chamas." 2011 começara poucos minutos antes e os cerca de mil cristãos que haviam participado na missa de Ano Novo saíam da igreja de Todos os Santos, em Alexandria sem suspeitar que a morte espreitava no exterior do templo: um suicida fez-se explodir, matando 21 cristãos e ferindo outros 80. Um atentado que provocou já a condenação e o repúdio mundial.
Kameel Sadeeq, do Conselho dos Cristãos Coptas de Alexandria, afirmou que o "massacre tem todas as marcas da Al-Qaeda, tem o mesmo padrão utilizado em outros países". Aliás, o atentado acontece dois meses após a Al-Qaeda ter ameaçado a comunidade copta do Egipto, que constitui 10% da população do país.
Num primeiro tempo, fora avançada a hipótese de que se tratasse de um carro armadilhado ou que a bomba tivesse sido colocado debaixo do automóvel de um dos cristãos que participara na missa. Mas, feitas as primeiras investigações, a polícia egípcia privilegiou a tese de um suicida que aguardou o fim da cerimónia para se fazer explodir no exterior do templo.
Numa intervenção pela televisão, o Presidente egípcio classificou o atentado como um "acto criminal odioso que visou a nação, coptas e muçulmanos". Hosni Mubarak denunciou ainda a "implicação de mãos estrangeiras" no massacre e lançou um apelo à calma. Mas o pedido do Presidente não foi ouvido e, ontem, o Dia Mundial da Paz, instituído há décadas pelo Vaticano, transformou-se num dia de luto e raiva para a comunidade copta da cidade mediterrânica: jovens coptas, cuja fachada da sua igreja ficou manchada pelo sangue das vítimas, avançaram contra a mesquita que lhe fica em frente, defendida pela polícia anti-motins.
"O coração dos coptas está em chamas", "O sangue dos coptas não é negociável" ou ainda "Com o nosso sangue e a nossa alma defenderemos a Cruz", foram algumas das palavras de ordem gritadas pelos jovens coptas da segunda maior cidade do Egipto enquanto enfrentavam a polícia anti-motins: pedras e garrafas contra granadas de gás lacrimogéneo e balas de borracha.
Chenouda III, o Patriarca da Igreja Copta, exigiu que os autores do ataque sejam presos e julgados, ao mesmo tempo que qualificava o atentado de acto "terrorista" e "cobarde" que "visa desestabilizar o país".
O atentado foi explicitamente condenado pela França, Itália, Reino Unido, Síria, Israel, Irão e ainda pelo grupo integrista palestiniano Hamas e pelo grupo radical egípcio Irmãos Muçulmanos.
Em Roma, o Papa aproveitou a homilia da missa do dia de Ano Novo para denunciar a violência de que os cristãos estão a ser alvo no mundo e alertar os responsáveis políticos para defender os cristãos dos abusos e da intolerância religiosa.
"Insisto, mais uma vez, que a liberdade religiosa é um elemento essencial do Estado de Direito", afirmou Bento XVI que adiantou: "As palavras não bastam, é preciso um empenhamento concreto e constante dos responsáveis das nações."
Bento XVI aproveitou para anunciar que irá como peregrino à cidade italiana de Assis - cidade de S. Francisco - onde irá ocorrer um encontro inter-religioso pela paz.
Enquanto isto, fonte do Ministério do Interior egípcio dava conta de que a bomba utilizada era de fabrico local e continha pedaços de metal "para atingir o maior número de pessoas". Segundo a mesma fonte, tudo indica que "elementos externos planificaram e seguiram a concretização" do atentado.
Bento XVI condena atentado de Alexandria
ResponderExcluirReza pelas vítimas e incentiva a perseverar na fé e na paz
CIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 6 de janeiro de 2011 (ZENIT.org) - O Papa condenou o atentado que os cristãos coptos em Alexandria, no Egito, sofreram em 31 de dezembro.
Ele se manifestou em seu discurso do último domingo, 2 de janeiro, durante a oração do Ângelus, da janela do Palácio Apostólico, diante de milhares de fiéis reunidos na Praça de São Pedro.
Um carro-bomba explodiu na frente da igreja dos Santos no final da Missa da meia-noite do último dia do ano, causando 21 mortos e vários feridos.
O Papa confessou "ter recebido com tristeza a notícia do grave atentado cometido contra a comunidade cristã copta em Alexandria".
Qualificou o ataque de "ato desprezível de morte" e comparou-o com o de "colocar as bombas agora também perto das casas dos cristãos no Iraque, para forçá-los a sair".
Este ato hediondo "ofende Deus e toda a humanidade", disse o Pontífice.
"Diante dessa estratégia de violência que se dirige aos cristãos e que tem consequências para todas as pessoas, rezo pelas vítimas e suas famílias, e incentivo as comunidades eclesiais a perseverarem na fé e no testemunho da não-violência que nos vem do Evangelho", acrescentou.
Em seguida, o Papa voltou seus pensamentos "aos numerosos agentes pastorais assassinados em 2010, em várias partes do mundo", a quem assegurou uma "lembrança carinhosa diante do Senhor".
O ataque terrorista da noite de 31 de dezembro contra a Igreja Ortodoxa Copta de Alexandria foi condenado por cristãos, judeus e muçulmanos.
Toda a população do Egito ficou profundamente afetada pelo ataque, que ameaça a convivência pacífica entre cristãos e muçulmanos, segundo o testemunho do bispo auxiliar do Patriarcado de Alexandria dos Coptos, Botros Fahim Awad Hanna, publicado no L'Osservatore Romano em 3 de janeiro.
Para evitar isso, nestes dias, o assessor especial para o diálogo do grão-imame de Al Azhar, Mahmoud Azab, anunciou a proposta de estabelecer um novo órgão, chamado "A Casa da família egípcia", composto por 14 representantes (7 cristãos e 7 muçulmanos).
Segundo os seus promotores, este órgão poderia desempenhar um papel de mediação nos vários contrastes entre as duas comunidades e, sobretudo, seria o palco para um novo diálogo entre cristãos e muçulmanos.